A Garganta da Serpente
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Sylvia

(A.C. Santiago)

- Pai, diz que me ama - disse Sylvia com os olhos marejados. Enquanto saía do quarto da filha, ele respirou fundo, baixou a cabeça e foi pra cama. Ela se deitou, cobriu-se com a colcha rosa; rosa como todo o quarto. Dormiu.

Naquela casa vivia uma família comum. Pai, mãe e filha. Logo cedo o pai saia para trabalha, sempre se despedia da mulher com um beijo levemente apaixonado e sempre beijava a testa de Sylvia. O trabalho não era grande coisa, não ganhava muito mais que três salários, mas era o suficiente. Isso é o que importa.

Durante a manhã, a mãe conversava bobagens com Sylvia até a hora do almoço. Fazia isso todos os dias. Durante a tarde cuidava da casa; fazia faxina, forrava as camas, trocava os sacos dos lixeiros dos banheiros, bebia um copo d´água. Se sentava na frente da televisão e esperava pela chegada de Sylvia, que a ajuda sempre a fazer o jantar.

O pai chegava logo no inicio da noite. Falava rapidamente com a esposa e a filha, que a esta hora estavam fazendo o jantar. Tirava a blusa, os sapatos, a calça e ficava na sala só de cueca assistindo televisão. Normalmente sempre chamava a filha para lhe fazer uns afagos. Era deveras um pai muito carinhoso.

Todos pareciam muito felizes. Ignorando-se aquele jeitinho meio "distante" de Sylvia.

Aquela família sempre dormia cedo. Às nove colocavam Sylvia pra dormir e iam para sala namorar um pouco. Raramente faziam sexo. - em respeito a nossa filha - Ele dizia..

Os dois iam se deitar juntos. Ela sempre dormia primeiro. Algumas vezes ele se levantava e ia ver a filha. Era um pai muito carinhoso. Passava alguns minutos naquele quarto de um rosa de aparecia imaculada. Em seguida voltava para a cama. Esta noite não seria muito diferente, até que a voz de Sylvia quebrou o silencio que tomava conta de toda a casa, senão de todo o bairro. - pai, diz que me ama - disse ela com os olhos marejados, enquanto vestia a calcinha cheia de flores coloridas. Ele deu as costas, respirou fundo e não sei por quê deixou uma lagrima cair enquanto levantava as calças.

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