Wim Wenders, ao passar ao lado de uma maravilhosa árvore, um cedro do
Líbano, que está ao lado da rodovia, na chegada a Paris, para
participar do Festival de Cannes de 1982, indaga-se sobre o futuro do cinema.
Decide, então, convidar diversos diretores de cinema para que, no quarto
666 de um hotel, respondam à crucial pergunta de qual seria, àquela
altura, o futuro do cinema, diante da ameaça da televisão, pois,
segundo ele, cada vez mais os filmes do cinema se assemelhavam aos da televisão.
Ele entrevista Jean-Luc Godard, Chantal Akerman, Michelangelo Antonioni, Maroun
Bagdadi, Ana Carolina, Mike de Leon, Rainer Werner Fassbinder, Yilmaz Güney,
Monte Hellman, Werner Herzog, Robert Kramer, Paul Morrisey, Susan Seidelman,
Noel Simsolo, Steven Spielberg, e ele próprio, que opta por colocar uma
gravação do depoimento do cineasta turco Yilmaz Güney, com
quem ele havia se encontrado um dia antes, em uma casa a 30 km de Paris, pois
este era refugiado, perseguido pelo governo turco.
Os comentários são muito diversificados. A liberdade de expressão
é total e isto possibilita uma riqueza exuberante de possibilidades de
expressão, o que traz muito interesse a todas as pessoas que apreciam
o cinema, tanto de uma forma mais técnica, como mais leiga.
Wim Wenders comenta, depois, as entrevistas, com toques de bom humor e muita
simplicidade. Quanto ao quarto 666, foi o único quarto vago encontrado,
possivelmente, pela superstição quanto ao número. Ele comenta
que o citado quarto talvez nunca tenha sido ocupado...
Os diretores se sentavam em um sofá, com uma televisão ligada,
atrás dos mesmos, alguns preferiam se levantar, e liam a pergunta, que
estava escrita em uma folha de papel, sobre uma mesa; alguns, mais loquazes,
outros, mais concisos. Ao se retirarem, desligavam o gravador e a câmera.
Werner Herzog tirou os sapatos e desligou a TV, muito típico dele, segundo
Wenders, seu amigo.
Antonioni, muito elogiado por Wim Wenders (assim como Godard), teve uma trombose
no ano seguinte e não conseguiu mais falar. Ainda assim, conseguiu dirigir
um filme. Como os produtores temiam financiar o filme, devido ao seu estado
de saúde, Wenders atuou como seu diretor-auxiliar, o que permitiu que
o filme fosse concluído, dentro do prazo e sem maiores percalços.
(17/01/2009)
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