Artur Ribeiro
A poesia veio com a poesia de minha mãe. Quando se tem seis ou sete anos e alguém recita uma poesia pra você é quase certo que também será poeta. Nasci em São Francisco do Conde, interior da Bahia. Com um ano de idade fui morar no Rio de Janeiro e de lá me lembro claramente de imensos balões coloridos que uma turba ensandecida fazia questão de lançar aos céus. Lembro-me também de pierrôs e colombinas e de como éramos levados, eu e minha irmão, ao clube nos dias de carnaval. Mas a lembrança mais perene, aquele que é pra sempre, foi quando minha mãe disse que poderia me dar uma nova camisas de mangas! Ao lado de nossa casa, vivia um alfaiate, e depois de ter escolhido com minha mãe um belo tecido de desenhos de estórias em quadrinhos, deixamos com ele para fazer minha nova camisa. Precisei tirar medidas e tudo e fiquei muito feliz! Mas essa felicidade só foi maior quando no natal pude vestir a minha camisa de estórias em quadrinhos novinha em folha! Depois nos mudamos pra São Paulo e era uma terra estranha. Havia tanques de guerra passeando pela rua e eu achava aquilo tão bonito! No entanto pessoas morreram, a poesia de minha mãe foi queimada, e ela no quarto, depois de me pedir para sentar na cama, ajoelhou-se frente a mim e implorou pra que eu nunca escrevesse. O tempo passou e infelizmente não pude realizar seu desejo. Agora escrevo sempre, freneticamente, ansiosamente, deliberadamente, como que tirando de mim agonias. E só assim, sentindo-me livre, como antes.