Enquanto a idéia não vem...
Eu fico olhando para o alto
Sonho em vão, mastigo algo
Reparo nos gestos das pessoas e escrevo sobre isso
Desprezo outras idéias, acho tudo um desperdício
Eu percebo as horas passando
Eu desejo ser alguém que não fique apenas rimando
Eu sento-me à mesa de um bar qualquer
Peço uma, duas, três cervejas e seja o que Deus quiser
Eu viro e reviro o guardanapo
Busco inspiração até num tolo bate-papo
Eu mexo no cabelo, mordo a boca
Acho um absurdo quando fico assim e ainda me chamam de louca
Preencho meu tempo no telefone
Fico tão concentrada que perco até a fome
Estalo os dedos, penduro na janela
Percebo, pelo espelho, que não sou uma Cinderela
Enquanto a idéia não vem...
Mil castelos vão ruindo
Eu insisto em digitar, mas deveria estar dormindo
Fico feliz com a chegada do inverno
Agradeço aos céus pelo fim do calor, fim do inferno
Releio meus trabalhos da faculdade
E quase boto fogo nesse monte de bobagem
Eu imagino Fernando Resende como o nosso prefeito
Constato que só assim Mimoso tomará jeito
Penso que não uso a simetria do escrever, num esquema tático
Sento em frente à TV e acho patético o Fantástico
Enquanto a idéia não vem...
Eu pergunto: Hoje tem lua no céu?
Ninguém me responde, afinal, só estamos eu e o papel
Eu rôo as unhas da mão
Lembro que isso faz mal e cuspo tudo no chão
Enquanto a idéia não vem...
Escrevo sobre uma idéia que não chega, que não acontece
Só assim ela vira poesia e na Garganta da Serpente aparece
E, para quem leu até o final essa bobeira
Eu faço até uma prece.