Estou aqui
- à beira da Paulista -
observando a garoa secular:
são instantes apressados
caindo devagar
sobre a noite inquieta
O tempo,
estilingue enlouquecido,
chacoalha os subterrâneos
da cidade imensa.
São tantas lembranças
e inúmeros atrasos
espalhados pelo asfalto vivo.
Retiro a gravata
e afrouxo o peito
pronto a correr pela madrugada.
São motivos e lugares
que nunca se põem
mesmo que amanhã a semana recomece.
O parque, os rios,
as marginais,
os marginais e os assalariados.
São mãos e dedos e sonhos
refletidos no concreto
e no abstrato.
Fecho os olhos e ouço:
há estrelas que brilham lá em cima
onde o som das avenidas não alcança.
São milagres que percorrem
as artérias cada vez que nos lembramos
que existimos.
São milhões
de braços arregaçados.
São pedaços meus,
o lar escolhido.
São anos de luz
e de fé em
São Paulo.
Amém.