A Garganta da Serpente
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Descem do céu as luzes perdidas que assentam
sobre a ridigez do viaduto, por onde os carros
cruzam como feras e os homens alentam
suas forças com um mar de escarros.

São sete horas, e nas ruínas de uma igreja
prenuncia a noite o ribombar do sino,
no seu troar um murmúrio de inveja
transparece em todos ao montês peregrino.

A fornalha de homens borbulha e inflama
pelas ruas banhadas de sangue e suor;
na turba, nem cavalheiro nem dama,
mas um lascivo frenesi de estertor.

São Paulo! Terrível serpente, teu veneno
percorre as veias de teus próprios filhos!
que vergam, arrastam-se, e ao distante ameno
do céu, entoam gemidos como semi-vivos velhos.



Bartolo da Fonseca

(São Paulo/SP)
postado em 29/10/06
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