Como bem disse o baiano Herberto Sales, munido de toda sabedoria, "a coincidência
é a cúmplice sutil dos destinos humanos", e foi assim, por
acaso, que acabei de ler o seu OS PARECERES DO TEMPO, um livro extraordinário.
Cabe aqui entre nós até se perguntar por que este livro, como
outros do mesmo autor, não é encontrado mais nas livrarias? Afinal,
sem resposta que nos baste, nós mesmos respondemos: "Santo de casa
não faz milagre", e não seria para este santo, então,
que o milagre da multiplicação dos livros se faria, mas afianço,
sem apor aqui nenhuma modéstia, nem minha nem dele, que a grandeza e
a importância deste livro nos remete pô-lo como obrigatória
a sua leitura em todas as escolas deste país afora. Não bastasse
ser ele uma aula de narrativa farta, rica, bela, ainda nos mostra uma realidade
tão nua daquela Bahia dos escravos bichos, dos amores proibidos e ternos
descritos nas longas missivas em papel de linho, do poder levantado da terra.
Encontrei nas linhas um tanto do poder descritivo e lírico de José
Saramago, até mesmo algumas de suas finas ironias, só não
pude descobrir quem arrematou de quem o estilo literal, talvez ambos andassem
a engatinhar pelas letras brilhantes e foi aí que se deu o encontro,
a coincidência, esta cúmplice dos destinos, oxente, que fez Blimunda
se juntar a Sete-Sóis; que fez o capitão Policarpo Golfão
se ter com Leberata, enfim, todos num mesmo amor.
Sim, Ruy Espinheira Filho tem razão: Os pareceres do Tempo é
mesmo um romance admirável, já merecido do Tempo os seus pareceres
de permanência... E não foi só ele a admirá-lo, Gilberto
Freire também o fez joia da literatura brasileira e Jorge Amado uma obra-prima,
que na verdade, o é.
Os pareceres do tempo
Autor: Herberto Sales
Editora: Civilização Brasileira
416 páginas
1997
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