A Garganta da Serpente
Linguagem de Cobra estilística e metalinguagem
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Figuras de Linguagem ou de Estilo

São recursos utilizados para reforçar a expressividade da mensagem ou idéia através de palavras ou construções incomuns, conferindo originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso.
A utilização de figuras revela muito da sensibilidade de quem as produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor.

Figuras de Pensamento.:


São processos estilísticos que se realizam na esfera do pensamento, no âmbito da frase. Nelas intervêm fortemente a emoção, o sentimento, a paixão.

  • Antítese: utiliza palavras ou expressões de sentidos opostos, contraditórios.
    Ex.:
    "A areia, alva, está agora preta, de pés que a pisam"
    "Toda vida se tece de mil mortes"

  • Paradoxo ou oxímoro: utiliza idéias opostas simultaneamente, é uma oposição mais violenta, em que as idéias costumam se fundir.
    Ex.:
    "Tudo sem Silvano é viva morte"
    "Então, falo melhor quando emudeço... Que de matar-me vivo"

  • Gradação: é uma seqüência de idéias dispostas em sentido ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax), na qual seus significados tornam-se mais fracos ou mais fortes.
    Ex.:
    "Ele foi um tímido, um frouxo, um covarde"
    "Ande, corra, voe aonde a honra o chama"

  • Ironia: ocorre quando dizemos o contrário daquilo em que pensamos. é perceptível pelo contexto.
    Ex.:
    "A excelente dona Inácia era mestre na arte de judiar de crianças"
    "O velho começou a ficar com aquela cor bonita: uma tonalidade de cadáver"

  • Comparação ou Símile: é o estabelecimento de um paralelo entre dois significados diferentes. é uma comparação explícita, com o uso de elementos de ligação como: assim, como, tal qual, que nem, feito, etc. Aproxima dois seres pela sua semelhança de modo que as características de um sejam atribuídas a outro.
    Ex.:
    "Varri-me como uma pista"
    "E a hora, como um leque, fecha-se"

  • Prosopopéia, personificação ou animismo: consiste em atribuir vida ou qualidades humanas a seres inanimados, irracionais, mortos ou abstratos.
    Ex.:
    "O dinheiro falou mais alto"
    "O sol belisca a pele azul do lago"

  • Hipérbole: é uma afirmação exagerada das coisas, através de expressões enfáticas e exageradas.
    Ex.:
    "Chorarei pelo resto da vida"
    "Toda a emoção do mundo em suas mãos"

  • Eufemismo: é a atenuação ou suavização de idéias consideradas desagradáveis, por uma linguagem mais formal, mais culta, com o objetivo de esconder os significados pejorativos.
    Ex.:
    "Ele foi desta para melhor"
    "Existem escolas para crianças excepcionais"

  • Apóstrofe ou invocação: compreende a invocação de alguém (ou algo personificado) com função emotiva. Muitas vezes, há uma interrupção para dirigir-se a pessoas ou coisas presentes ou ausentes, reais ou fictícias.
    Ex.:
    "Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus!" (Castro Alves)

Figuras de Palavras.:


São desvios de significação das palavras para se atingir um efeito expressivo.

  • Metáfora: trata-se, na verdade, de uma comparação implícita. É um processo de comparação que se transforma em substituição, na qual há um conjunto de intersecção entre dois seres. Ocorre uma alteração de significados por traços de similaridade entre dois conceitos. Sua função é destacar aspectos que a palavra em si não consegue sugerir.
    Ex.:
    "Eu não acho a chave de mim"
    "Cai a tinta da treva sobre o mundo"

  • Catacrese: consiste no uso impróprio de uma palavra por falta de outra mais específica para dar nome a alguma coisa que necessita de designação. é a transferência de uma palavra, do seu sentido de origem para outra situação por analogia. Devido ao uso contínuo, quase não se percebe que estão sendo empregadas. Pode-se dizer que são metáforas desgastadas.
    Ex.:
    "O pé do vaso está quebrado"
    "Embarcou naquele avião gigantesco"

  • Metonímia ou sinédoque: é um processo de substituição em que a palavra ganha um sentido mais amplo. é uma espécie de singularização, visto que há a valorização de um traço do termo. A transposição de significados não é feita com base em traços de semelhança, mas devido ao relacionamento entre as palavras. Ocorre quando se emprega o efeito pela causa, o autor pela obras, o continente pelo conteúdo, o instrumento pela pessoa que o utiliza, o sinal pela coisa significada, o lugar pelos seus habitantes ou produtos, o abstrato pelo concreto, a parte pelo todo, o singular pelo plural, a espécie/classe pelo indivíduo, a qualidade pela espécie, a matéria pelo objeto, etc.
    Ex.:
    "Ele é uma grande raquete" (raquete em lugar de tenista)
    "Bebeu dois copos cheios" (recipiente no lugar do líquido)
    "Pão para quem tem fome" (pão em vez de alimento)

  • Antonomásia ou perífrase: há a substituição de um nome por uma expressão que o identifique com facilidade, por algum de seus atributos ou por fato que o celebrizou.
    Ex.:
    "os quatro rapazes de Liverpool" (em vez de Beatles)
    "a cidade maravilhosa" (em vez de Rio de Janeiro)

  • Sinestesia: há uma fusão de sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos.
    Ex.:
    "A luz crua da madrugada invadia meu quarto"
    "Um áspero sabor de indiferença a atormentava"


Figuras de Construção.:


Pode haver o desvio da norma estritamente gramatical com fins expressivos. São construções que se afastam das estruturas regulares ou comuns e que visam transmitir à frase mais concisão, expressividade ou elegância.

  • Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem justapostas ou separadas por vírgulas.
    Ex.:
    "Fere, mata, derriba denodado..." (Camões)
    "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apartando-se, fundindo-se." (Machado de Assis)

  • Elipse: compreende a omissão de um termo facilmente subentendido no contexto (pronomes, conjunções, preposições ou verbos).
    Ex.:
    "Na sala, apenas quatro ou cinco convidados" (omissão: "havia")

  • Zeugma: há a omissão de um termo que já apareceu antes. Sua repetição fica subentendida.
    Ex.:
    "Ele prefere cinema; eu, teatro" (omissão: "prefiro")

  • Pleonasmo: é a repetição enfática de uma idéia, também chamada redundância. Mal empregado, pode torna-se um vício de linguagem.
    Ex.:
    "É o divino amor de Deus"
    "A mim resta-me chorar"

  • Anáfora: é a repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
    Ex.:
    "Nada quero, nada fiz, nada farei"
    "Depois eu dou. Depois eu deixo. Depois eu levo. Depois eu conto"

  • Polissíndeto: consiste na repetição de conectivos na ligação entre elementos da frase ou do período.
    Ex.:
    "Trejeita, e canta, e ri nervosamente"
    "Mão gentil, mas cruel, mas traiçoeira"

  • Inversão: é colocar uma oração na ordem indireta, alterando a ordem natural dos termos. Conforme o grau de alteração, a inversão recebe o nome de hipérbato (inversão complexa de membros da frase), anástrofe (inversão de palavras vizinhas) ou sínquise (inversão violenta de distantes partes da frase).
    Ex.:
    "Passarinho, desisti de ter"
    "Tão leve estou que já nem sombra tenho"
    " A grita se alevanta ao Céu, da gente" (Camões)

  • Hipálage: há inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase).
    Ex.:
    "... em cada olho um grito castanho de ódio." (Dálton Trevisan)
    "... as lojas loquazes dos barbeiros." (Eça de Queirós)

  • Silepse: ocorre quando há concordância não com o que vem expresso, mas com o que está implícito ou subentendido, podendo haver silepse de gênero, número ou pessoa. Há uma "concordância ideológica".
    Ex.:
    "Vossa Excelência está ocupado"
    "Os Lusíadas glorificou nossa literatura"

  • Anacoluto: ocorre qquando deixamos um termo solto na frase, geralmente quando inicia-se uma determinada construção sintática e depois troca-se por outra. Há a quebra ou interrupção do fio da frase.
    Ex.:
    "A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa"
    "Pobre, quando come frango, um dos dois está doente"


Figuras de Som.:


Muitos as incluem dentro das figuras de construção. Compreende o uso de palavras com sonoridade igual ou semelhante, a fim de criar um referente. Visa reforçar do ritmo, dar uma maior sonoridade, musicalidade ao texto, enfatizando também seu significado central.

  • Aliteração: é a utilização de palavras com os mesmos sons consonantais. Há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra.
    Ex.:
    "Esperando, parada, pregada na pedra do porto"
    "Quem madruga sempre encontra Januária na janela"

  • Assonância: consiste na repetição dos mesmos sons vocálicos.
    Ex.:
    "O que o vago e incógnito desejo de ser eu mesmo de meu ser me deu"
    "Sou um mulato nato no sentido lato,mulato democrático do litoral"

  • Paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas com significados diferentes.
    Ex.:
    "Eu que passo, penso e peço"
    "Violência, viola, violeiro"

  • Onomatopéia: ocorre quando uma palavra o conjunto de palavras imita um ruído ou som.
    Ex.:
    "Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno" (Fernando Pessoa)


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