O menino observou demoradamente os reflexos brincalhões criados na corrente
incansável, e sedosa, que fluía no rio à sua frente. Tratava-se
de um menino sossegado e solitário, o único a não tomar
parte nas brincadeiras e jogos dos tantos por ali brincavam. Não que
as suas capacidades fossem inferiores dos demais, mas sim pelo feitio inato
de criança arredia e involuntária. A mãe, severa, já
devia estar à sua procura na vila acima mas ele parecia não se
importar. Preferia, entretanto, agarrar-se nalguns troncos flutuantes e deixar-se
embalar no doce decurso do rio manso.
O sol ainda de pé emanava suavemente um calor morno e convidativo; a
gritaria provocada pelos miúdos, entregues à algazarra na aldeia,
faziam-lhe companhia durante o passeio.
Com uma diligente excitação o menino imaginava que por aquele
meio flutuante o destino pudesse leva-lo a outro mundo; onde haveria de saltar
e correr á vontade, deitar-se na relva à qualquer hora, passar
dias a pescar... Tudo isso sem ser chamado às tarefas aborrecidas do
campo e da escola; que existisse uma aldeia diversa daquela onde nascera e fora
criado, habitada por pessoas interessantes e menos enfadonhas. Portanto, ao
leme das aguas verdejantes, apressou-se em sonhar a sua liberdade !
Porém, subitamente, o tronco embateu numa pedra a meio do rio e o menino
caiu n'água. Não sabia nadar, debateu-se tentando pedir ajuda
mas não havia ninguém que o ouvisse. Sentindo-se assustadoramente
só e esquecido, acreditou que iria morrer e gritou pela mãe, mas
em vão. Só então foi puxado à superfície
pelas mãos da progenitora, o menino agarrou-se-lhe às pernas sentindo
o cheiro que lhe era tão familiar e rezando para dali nunca mais se afastar!